Nome: Max Payne 3
Gênero: Ação
Distribuidora: Rockstar Games
Plataformas: PS3, Xbox 360 e PC (também distribuído digitalmente pela Nuuvem)
Max Payne 3
Se passaram quase dez anos desde que Max Payne 2 foi lançado, deixando sua marca como um título que tem uma história madura repleta de violência e reviravoltas. Isso tudo na pele do ex-detetive Max, um dos homens mais problemáticos que o jogador terá a chance de conhecer como protagonista de um jogo.
Para os fãs da série desde o primeiro título - lançado em 2001 - muita nostalgia os aguarda, com um enredo em que o clima noir e sombrio pemanecem em alta, do início ao fim. Quem ainda não jogou os primeiros títulos, recomendamos que o façam. A história de Max é muito profunda, e é difícil de sentir a mesma mistura de sentimentos que envolve toda a personalidade pessimista de Max, sem ter experimentado o início de sua jornada.
No fim das contas, Max Payne 3 é uma experiência que surpreende, mesmo sendo o primeiro título que não foi desenvolvido pelo estúdio original - a Remedy. A atualização de Max a um mundo mais atual foi feita com grande sucesso pela Rockstar Vancouver, criando um contraste bem realista do que o personagem é, e do mundo ao seu redor.
Max Payne 3
Uma nova e triste vida
Depois de uma vida bem traumatizante, ainda quando era detetive da polícia de Nova Jersey, após perder a esposa e a filha para o crime organizado, Max ainda tenta continuar a seguir em frente, sem muito sucesso. Como um ex-detetive, ele tinha um problema que muitos heróis mascarados não tem: saber sua “identidade secreta”. Max é um herói norte-americano, por ter combatido no passado os traficantes de uma droga chamada Valkyrie, e se tornou um símbolo respeitado por quase todos.
O problema é que a vida de Max ficou muito exposta, e todas as pessoas ao seu redor acabam se tornando vítimas da máfia. Familiares e amigos acabaram pagando o preço do elo que possuem com o ex-detetive, o que o transforma em um homem cada vez mais amargo e desanimado com a vida.
Depois de ter sérios problemas com mafiosos e não ter mais proteção policial, Max viu que sua vida estava em grande risco, e e ao encontrar um antigo amigo, Raul Passos, ele tem uma oportunidade única: abandonar a vida de tristezas nos Estados Unidos, e fazer alguns trabalhos pelo mundo. É nessas que Max acaba chegando ao Brasil, uma terra cheia de belezas naturais e oportunidades. Parecia a solução perfeita.
Max Payne 3
Mesmo trabalhando em meio a pessoas animadas, Max não consegue se sentir um homem feliz. Ele sempre está com a cara fechada em meio aos clientes que devem proteger (pois ele não possui amigos), e por diversas vezes é motivo de piada por ser o carrancudo da festa. É uma depressão da qual ninguém ao seu redor tem noção, e é um passado negro que ele guarda para si só e para o jogador, que depois de entender todos os infortúnios do protagonista, compreende a razão de nunca dar um sorriso e se compadece.
A vida de Max não melhora tanto quanto ele gostaria no Brasil. Trabalhando na capital paulista, Max é segurança particular – juntamente com Passos – para uma das famílias mais ricas da cidade: os Branco. Trabalhar para ricaços tem suas vantagens, como ir para muitas baladas, atravessar a cidade de helicóptero e outras regalias. Mas em uma fração de segundo, toda a beleza se transforma em um banho de sangue, dessa vez com quadrilhas brasileiras, como o Comando Sombra, o Crachá Preto e outras.
Max Payne 3
No Brasil, Max se torna um alcoólatra e um viciado em analgésicos (os famosos Painkillers, que são itens de cura no decorrer dos títulos da série), ainda vivendo sob o passado sombrio, e com amargas memórias de sua esposa e filha, mortas há tanto tempo. Em certos momentos do jogo, é possível ver a vida íntima de Max, onde ele fica sozinho em seu apartamento, olhando para a foto da ex-esposa, chorando amargamente e se acabando na bebida, usando trajes deploráveis.
Esses detalhes ajudam muito na imersão do jogador, para que este tenha uma noção do quão “feliz” é o protagonista, e somados aos inúmeros monólogos existentes durante as fases, o jogador mergulha rapidamente no mundo depressivo de Max, onde a palavra “sorte” foi esquecida há muitos anos. Não são raras as vezes em que o jogador se encontra pensando na hipótese mais pessimista para a solução de um problema durante o jogo – consequência de um forte elo emocional criado com o personagem.
Max Payne 3
Super reflexos
Max Payne foi o primeiro jogo a apresentar o recurso Bullet Time, onde a câmera fica lenta e o personagem consegue se esquivar facilmente dos disparos inimigos, além de aumentar muito a sua precisão. O recurso está presente em Max Payne 3, e assim como seus antecessores, é algo fundamental para a sobrevivência do deprimido herói.
A dificuldade do jogo é bem elevada, mesmo no nível médio. Os inimigos são agressivos e o jogador precisa pensar rápido em momentos de tensão, quando ele se esconde atrás de uma parede, uma caixa, ou até mesmo um monte de malas, o que diminui a eficiência de sua cobertura. A inteligência artificial não deixa o jogador respirar por muito tempo, avançando os atiradores para cima de Max, ou atirando granadas para forçá-lo a sair do seu único esconderijo.
A capacidade do inimigo para flanquear o jogador é alta, e embora o título seja bastante linear e possamos ver dezenas de bandidos vindo em um corredor, estes sempre usam dos esconderijos com sabedoria, e farão de tudo para te tirar do seu ponto de vantagem. Nessas horas, o Bullet Time mostra-se a ferramenta mais útil de Max, superando até a arma mais poderosa do jogo.
Max Payne 3
Para os menos acostumados com a série (entenda-se: não jogou os anteriores), a precisão da mira de Max Payne 3 pode ser algo difícil de se adaptar, e ai fica uma grande dica: evite ao máximo tentar meter bala em mais de um inimigo ao mesmo tempo, sem usar o Bullet Time. A ação acontece bem depressa, e o dano recebido nos disparos é ainda maior sem o poder especial do personagem.
Outra dica interessante: repare sempre na mira do personagem, um pontinho branco no centro da tela. Quando um inimigo é atingido, ele pode se levantar várias vezes, de acordo com a região do corpo que é atingida. Tiros fatais são mostrados com uma marca “X” na mira, no momento do disparo, confirmando a morte do inimigo. Não confundam com outros jogos de tiro, onde o “X” na mira significa que o tiro acertou, mesmo sem ter matado o alvo.
Essa diferença parece ser boba, mas não é. Inimigos melhor equipados com coletes de proteção podem demorar muito para cair, se não forem atingidos na cabeça. Não tenha vergonha de usar o Bullet Time. A barra se enche conforme os disparos dados contra Max (não necessariamente atingidos, qualquer tiro em sua direção aumenta a barra), e este é o maior “charme” do jogo, por isso os produtores fizeram questão de colocar tal recurso como algo fundamental para sua sobrevivência.
A campanha de Max tem muitos segredos a serem encontrados, como pistas de crimes e pedaços dourados as armas, o que deixará o jogador ocupado por um bom tempo.
Max Payne 3
São Paulo, Rio de Janeiro e o realismo
A intenção dos produtores ao criar uma história de Max em São Paulo, foi a de colocar um estrangeiro que mal sabe falar o português, em uma terra grande e estranha, onde muita coisa é falada e pouca é compreendida pelo personagem. Em vários momentos do jogo, ele faz referência a uma “linguagem universal”: uma arma apontada na sua cabeça. Nenhum curso de idiomas precisa ensinar o que isso significa.
Mas nós – como público brasileiro – conseguimos entender perfeitamente o mundo ao redor de Max, o que nos dá uma ótica diferente da história, e aumenta o ponto de vista crítico de um elemento importante: a dublagem dos personagens.
É inquestionável o esforço que a Rockstar Vancouver fez para tentar colocar em um jogo, uma realidade mais fiel possível de São Paulo. Produtores fizeram laboratório em regiões ricas e pobres da cidade, e o trabalho não ficou de todo ruim, embora tenha alguns pontos negativos. Atores portugueses deram voz a alguns personagens principais, enquanto atores brasileiros dublaram personagens secundários. Certas vozes brasileiras simplesmente deixam um ar de estranheza ao serem ouvidas, sendo perceptível a presença de um certo sotaque em alguns momentos.
Max e seu amigo Passos não são bons no português, mas possuem fluência em algo mais "compreensível"
Os personagens paulistanos não chegam a lembrar tanto assim os nativos da cidade. Outro ponto que deixa a desejar é o fato de todos os bandidos terem a mesma voz. Sejam os comandantes da favela, ou policiais corruptos, todos tem o mesmo timbre de voz.
Quando o jogo foi anunciado, os primeiros trailers mostravam uma maior semelhança com o Rio de Janeiro do que com São Paulo, e os jogadores reclamaram a respeito. A Rockstar se desculpou pelo erro e tentou consertar, mas os resquícios de cultura carioca ainda ficaram na versão final.
O Multiplayer
O modo multiplayer de Max Payne 3 é divertido, porém dispensável para se obter uma experiência plena. Com mapas em vários lugares de São Paulo e Estados Unidos, esse é o ponto mais previsível de todo o jogo. Os mesmos modos de sempre (Deathmatch, Team Deathmatch e outros) e o mesmo sistema de evolução de personagem para comprar armas e itens visuais, já visto em outros jogos por ai.
As disputas de território na favela entre gangues, ou a guerra entre a polícia e os bandidos ilustram as partidas multiplayer, com uma jogabilidade um pouco diferente do jogo principal, e um uso mais limitado do Bullet Time. As partidas são justas e não são ruins, apenas passa uma sensação de “mais do mesmo”.
Multiplayer de Max Payne
Conclusão
Max Payne 3 justifica sua demora de quase 10 anos, bem como a política da Rockstar, que demora muito para produzir qualquer título, mas quando lança, o consumidor se sente satisfeito ao pagar caro em um título e jogá-lo até o final, e ainda querer jogar mais uma vez para coletar os itens. É uma experiência diferente dos outros jogos de ação que acabamos nos acostumando, e leva o jogador de volta a um tempo onde os tais jogos de tiro eram difíceis e recompensadores. Com um clima “noir” e “old school”, este é um forte candidato a jogo do ano.